Explore a exposição Gestalt de Manuela Mendes da Silva, onde luz, cor e poesia se unem para criar paisagens oníricas e abstrações profundas.
A exposição “Gestalt” da artista plástica Manuela Mendes da Silva foi exibida no Fórum da Maia em dezembro de 2008, convidando os visitantes a mergulharem nas suas paisagens oníricas e abstratas. As telas de Manuela são marcadas pela interação entre luz e sombra, como se a luz, filtrada por uma névoa suave, trouxesse à tona figurações de uma realidade submersa. Esta luz incendeia o espaço com laivos de azul, evocando o mar grego e criando um ambiente que apela ao sonho e à imaginação.
Nas suas obras, a luz não é apenas um elemento técnico. Ela transforma as composições em experiências sensoriais. Em certos momentos, o espaço das telas parece inflamar-se, e o clarão de uma seara madura surge, envolto em tons de sândalo e ouro. Este brilho misterioso e sedutor dá uma sensação de calor e de vitalidade, algo que remete para o poder da natureza e da vida.
A exposição Gestalt foi mais do que uma apresentação visual: foi uma jornada poética. Inspirada por diversos poetas como Albano Martins, Frederico Garcia Lorca e Konstandinos Kavavis, as obras de Manuela Mendes da Silva evocam temas profundos sobre a existência, a natureza, o tempo e a imaginação. As telas são um convite para refletir sobre o mundo interior do ser humano e a conexão com o universo ao seu redor.
"Nas telas de Manuela Mendes da Silva, a luz, filtrada pela névoa, cria figurações, que são também fulgurações, de uma realidade submersa. Como fósforo azul, com laivos de mar grego, incendeia às vezes o espaço e cria envolvências irreais que apelam ao sonho e à imaginação." Albano Martins
Poemas como “Terra Seca” de Lorca e “As Janelas” de Kavavis oferecem reflexões que dialogam com o trabalho da artista. Ambos os poetas exploram temas de isolamento, sonho e esperança, paralelamente ao que se vê nas telas de Manuela. Assim como nos versos de Albano Martins, onde “nem tudo o que veio chegou por acaso”, as pinturas de Manuela sugerem que há muito a ser decifrado nas suas camadas de cor, luz e textura.
A exposição Gestalt também explora o conceito de transformação e revelação, assim como o poema chinês de Su Dong Po, que questiona como um “pontinho vermelho” pode desabrochar na primavera. Nas pinturas de Manuela, pequenos detalhes de cor e forma abrem portas para novos significados e interpretações. As suas obras são um exemplo da forma como a natureza e a emoção se unem em explosões de cor.
Os visitantes da exposição foram convidados a descobrir o mundo singular de Manuela Mendes da Silva, onde o real e o imaginário se encontram. As salas escuras do Fórum da Maia ofereciam um cenário perfeito para essa descoberta, um espaço onde a luz parecia surgir das próprias telas, revelando novas percepções e verdades interiores. Como escreve Kavavis, “as janelas não se descobrem”, mas na obra de Manuela Mendes da Silva, o que é revelado é uma nova forma de ver e sentir o mundo.
Terra seca terra quieta de noites imensas. (Vento na oliveira, vento na serra.) Terra velha do candil e da pena. Terra das fundas cisternas. Terra da morte sem olhos e as flechas. (Vento dos caminhos. Brisa nas alamedas.)
“Terra Seca” Frederico Garcia Lorca
S/ titulo Acrílico sobre tela, 120x100cm
Nestas salas escuras, onde vou passando dias pesados, para cá e para lá ando à descoberta das janelas. – Uma janela quando abrir será uma consolação. Mas as janelas não se descobrem, ou não hei-de conseguir descobri-las. E é melhor talvez não as descobrir. Talvez a luz seja uma nova subjugação. Quem sabe que novas coisas nos mostrará ela.
“As Janelas” Konstandinos Kavavis, in “Poemas e Prosas”
S/ titulo Acrílico sobre tela, 100x100cm
Ainda te falta dizer isto: que nem tudo o que veio chegou por acaso. Que há flores que de ti dependem, que foste tu que deixaste algumas lâmpadas acesas. Que há na brancura do papel alguns sinais de tinta indecifráveis. E que esse é apenas um dos capítulos do livro em que tudo se lê e nada está escrito.
“Um Dos Capítulos”, Albano Martins, in “Escrito a Vermelho”
S/ titulo Acrílico sobre tela, 150x100cm
Há sol na rua Gosto do sol mas não gosto da rua Então fico em casa À espera que o mundo venha Com as suas torres douradas E as suas cascatas brancas
““Há Sol na rua” Boris Vian, in “Canções e Poemas”
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